terça-feira, 31 de dezembro de 2013

Papo Sóbrio: Fim de Ano



“Quem teve a idéia de cortar o tempo em fatias,
a que se deu o nome de ano,
foi um indivíduo genial.
Industrializou a esperança
fazendo-a funcionar no limite da exaustão.
.
Doze meses dão para qualquer ser humano
se cansar e entregar os pontos.
Aí entra o milagre da renovação e tudo começa outra vez
com outro número e outra vontade de acreditar
que daqui pra adiante vai ser diferente…"


Brilhantemente descrita nessa poesia de Drummond a industrialização da esperança, eu sei, é uma poesia clichê para os blogs que se ocupam em questionar a importância que damos ao Ano Novo.

Na verdade a idéia não é nova, o homem precisa de esperança para sobreviver e cria ferramentas para tornar a vida de suportável. Uma crença religiosa, um destino, um novo dia, a possibilidade de recomeçar, corrigir os erros. No fim, uma oportunidade de reflexão, penso eu.

Me perguntei muito se eu seria a pessoa mais indicada para escrever sobre a passagem de ano e esperança, a própria idéia do post não foi minha, foi sugerida por Lais Borges, uma artista plástica, jornalista, publicitária, poetiza e sabe-se lá quantas coisas mais convergem à essa menina de 29 anos mas decidi tentar expor meu ponto de vista pedindo a Deus que isso não cause suicídio em massa dos leitores.

Pessoalmente gosto do ano novo, é uma data que as pessoas experimentam uma fuga da realidade e agem mais como deveriam ser do que como realmente são. Não acho que seja exatamente uma data de hipocrisia mas uma data de esperança, o problema é que essa esperança normalmente tem mais a ver com como você gostaria de ser nesse novo ano que propriamente como você gostaria que o novo ano fosse.

Diferente dos outros animais, o homem, tem a oportunidade de ser ético, moral e equilibrado mas isso exige um esforço inesperado já que essas virtudes não são inerentes aos animais e sim um conjunto de regras e disciplinas criadas pelo homem para se sentir superior aos seus irmãos primatas.

Como todo esforço, essa necessidade de ser superior se desgasta e aos poucos o homem vai se tornando o que de fato é: um animal. Mas não hoje, não com o ano novo. O ano novo permite a reflexão e renovação de nossos votos de humanidade. Me arrisco a dizer que sem a esperança gerada no ano que inicia, a raça humana, voltaria a idade do bronze em poucas décadas.

O ano novo, não é uma data que as pessoas mentem para os outros, é uma data que as pessoas mentem para si e por essa ótica, não vejo como hipocrisia, vejo com um desejo, esperança e fé. Aquela pessoa que passou o ano todo falando mal de você não está tentando fazer as pazes para enganar você, está tentando fazer as pazes pra se enganar.

Por fim, o problema do ano novo não é a pessoa que você se torna durante esses poucos dias que margeiam a virada do ano, é a pessoa que você volta a ser quando se dá conta da realidade em que se vive e da sua incompetência em melhora-la.

Agora, deixem essa arma ai, desfaçam esse nó e guardem esse veneno pois de todos os sonhos da humanidade o de ano novo é o melhor. O que normalmente as pessoas não entendem é que você não pode melhorar o mundo sem melhorar você. Um mundo melhor começa com pessoas melhores e essa reflexão, normalmente não nasce quando você lê Karl Marx ou Gandhi, não nasce quando você se filia a um grupo de direitos humanos ou dos animais, não nasce quando você decide lutar pela igualdade social. A possibilidade de se tornar uma pessoa melhor e consequentemente melhorar o mundo nasce quando você reflete sobre quem você é e quem você gostaria de ser.

Um ótimo 2014 para todos, aproveitem para refletir sobre a vida e tenham força para fazer do resultado dessa reflexão uma realidade e como dizem nos Alcóolicos Anônimos, não tente se tornar uma pessoa boa, ética, moral e equilibrada, isso é muito difícil. Tente apenas ser bom, ético, moral e equilibrado em 2014. Um ano de cada vez.

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