quarta-feira, 15 de agosto de 2012

A Caçada

Ontem, ao voltar para casa no lotação 614, não pude deixar de ouvir uma conversa entre mãe e filho que, apesar de corriqueira, me chamou a atenção:
- Mãe, por que a senhora não foi ontem na igreja?
- Na igreja? Eu nunca poderia ir na igreja, meu filho, e sim à igreja. - explica a mãe com um ar de deboche.
- Ora, mamãe, a senhora entendeu, não entendeu? Então não complique.
- Meu filho se diz "à igreja" e ponto final.

Eu sei, isso acontece todos os dias e não há nada de mais. Mas não posso negar que o diálogo entre os dois me fez pensar na prioridade de um idioma de comunicar um fato ou idéia. Por vezes damos mais importância à forma que ao conteúdo. Imaginem o nosso mundo há centenas de anos. Um homem primitivo tentando, por meios de gestos, explicar para a sua esposa que iria caçar e sabendo que demoraria dias fora de casa, existia sempre um receio de uma falta de compreensão, que resultaria em um grande problema quando ele chegasse em casa uma semana depois. Olhando por esse lado não é difícil deduzir porque o homem inventou a língua, sons, desenhos e sinais que expressão idéias até os dias de hoje com as palavras e frases que deixam a comunicação mais simples. Simples? Vamos imaginar que o mesmo primata tivesse que explicar para a sua esposa que iria caçar, só que usando palavras assim como nós. Ao dizer:- Querida, vou à caça.Teria que ter cuidado para não dizer "vou na caça" ou ela pensaria que ele iria caçar montado em algum animal. A situação pioraria se ele tivesse que deixar um bilhete. Teria que escrever "Querida, vou à caça" sem esquecer o sinal de crase, pois temos uma super posição do "a" preposição exigida pelo verbo ir e o "a" artigo definido feminino que acompanha o substantivo caça; sem falarmos é claro no grave erro que ele jamais poderia cometer de escrever caça com "s" ao invés de "ç", ou alem fracassar ao se comunicar com sua esposa, ele ainda teria que explicar a ela em que casa esteve durante uma semana.