quinta-feira, 3 de março de 2011

Radiação - O Sopro de Deus

"qualquer tecnologia o suficientemente avançada é indistinguível da magia." - Terceira Lei de Clarke

A ciência sempre fascinou a humanidade e antes dela, a magia ocupava o papel de destaque no imaginário de crianças, adolescentes e apreciadores do fantástico mas com a evolução tecnologica, herança da revolução científica do século XVII o mundo passou a presenciar as maravilhas da tecnologia com a admiração dos crédulos que tem fé no incompreensível.

No fundo, para a maioria das pessoas, a única diferença real entre um médico e um curandeiro é que o médico cobra mais caro. As comprovações científicas que garantem a precisão de um médico em um tratamento ou de um cientista em uma nova descoberta nunca chegam de forma clara às massas. No final, a mesma fé que move a igreja, move a magia e move a ciência.

Esse fascínio por um poder que não se pode dominar com precisão fez surgir novas possibilidades de explicação para existência do fantástico. Em 1817 o clássico Frankenstein descrevia a criação de um monstro resultado das diversas ciências que assombravam o imaginário da época, diferente de maldições e pactos com o demônio o monstro criado por Mary Shelley era resultado de um conhecimento tecnológico avançado. Mais tarde, em 1886, é publicado O Médico e o Monstro onde Robert Louis Stevenson descreve os efeitos de um preparo químico especial, capaz de modificar física e psicologicamente um homem o transformando em uma fera. Os avanços tecnológicos proporcionados à humanidade em meados de 1700 através dos estudos de Benjamin Franklin (com a eletricidade) e Lavoisier (com a química) fez nascer um novo tipo de fantástico.


Dessa época em diante a ciência e seus avanços passaram a fazer parte do imaginário coletivo como um poder oculto que espreita a humanidade.

O passo seguinte dessa saga seria dado mais uma vez por uma mulher quando os estudos e descobertas de Marie Curie tornaram-se conhecidos e um pouco mais populares. Diferente da química que podia ser vista em frascos coloridos e da eletricidade que tinha seus efeitos facilmente notados pelas explosões luminosas e geração de calor, esse novo fenômeno chamado radiação, invisível aos olhos e com um poder desconhecido era de longe a mais fascinante justificativa para quem se ocupava em criar mitologias.

Dos estudos de Marie Curie, passando por Planck e Einstein, o poder da radiação e do átomo gerou nos anos que se seguiram uma série de novos seres mitológicos, novos deuses e novos monstros sustentados não pela magia mas pela ciência.



O Sopro de Deus

Em meados de 1900 a radiação e seus efeitos tornaram-se justificativa para explicar o que não podia ser explicado. Uma força desconhecida e poderosa que se propaga no espaço atravessando corpos a uma velocidade desconhecida, por motivos desconhecidos, de origem desconhecida e que e, por onde passa, modifica estruturas - O Sopro de Deus.

Não à toa, essa nova tecnologia originou uma série de novos seres míticos que hoje conhecemos como super-herois. Super-Homem, Hulk, Homem Aranha, Nuclear (Firestorm), Capitão Átomo e Dr. Manhattan são algumas das novas criaturas que tiveram a radiação como explicação para suas anomalias.

Hulk, o caso mais clássico e uma releitura do Médico e o Monstro de Robert Louis Stevenson, é uma criação de Stan Lee com poderes potencializados afinal, a energia de um átomo havia se mostrado muito maior que a energia de qualquer fórmula química. Não muito longe dessa ideia temos o Super-Homem, recebendo seus poderes do sol amarelo através da radiação por ele emitida e foi também a radiação a responsável por transportar as habilidades de uma aranha para um homem no caso do Homem Aranha.

Todos esses eventos são os reflexos da tecnologia de uma época com base na terceira lei do escritor Arthur C. Clarke, onde ele afirma que a mágica e por associação, o fantástico, são possíveis quando a tecnologia é o suficientemente avançada.

A verdade sobre a radiação é que se você for contaminado por ela você provavelmente irá morrer mas o problema é que os efeitos dela sobre os seres vivos não são totalmente conhecidos por cientistas e para isso basta citar os animais que nascem normais em regiões de Chernobyl onde os cientistas diziam ser estéreis. A maioria dos seres vivos da região ainda contém indícios de modificações genéticas causadas por essa energia mas há animais que nasceram onde não deveria haver vida.

O fato é que a radiação, a química, a biologia e a genética ainda escondem os seus mistérios alimentando o imaginário das mentes mais criativas.

6 comentários:

  1. Ouso dizer que a tecnologia só avançou ao ponto onde ele está hoje graças a visionários, sendo que provavelmente muitos destes obtiveram inspiração através da ficção científica.

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    1. Na verdade a ficção científica se pauta nos pensadores e idealizadores cientistas que estão muito a frente do que conhecemos, tecendo pesquisas em horizontes totalmente desconhecidos pelos meios acadêmicos, mas dos meios dos investimentos e espionagem empresarial.

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  2. Esse assunto é daqueles que nunca passaria pela minha cabeça numa tarde de terça-feira ociosa, mas depois de explicado a primeira coisa que me vem a cabeça é: "como eu não pensei nisso antes?"

    Talvez porque eu seja Arquiteta e não Química né? hahahaha

    Excelente texto Mercuryo! =)

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  3. Texto interessante, mas há uma informação imprecisa: em Chernobyl, nas áreas afetadas ainda por radiação, não “nasceram seres normais”. O criacionaismo é apenas uma péssima teoria fundamentada em crença, Darwin é muito melhor. Neste região, que realmente se esperava ficar estéril por um tempo superior, foram encontrados insetos e anelídeos com minhocas. Acontece que nenhum deles está normal e há em andamento um estudo justamente sobre isso. A ultima coisa que li havia mostrado que os tamanhos destes bichos não eram normais, sendo menor que o esperado. E claro, não dá para saber se estes seres estão se reproduzindo lá ou se estou chegando lá e sofrendo alterações pela radiação. Até concordo que deve existir um tipo de radiação em uma determinada porcentagem que possa modificar para um benefício. Entretanto ainda não existem relatos disso, usa-se a radiação controlada e direcionada para combater câncer, mas isso está bem distante de podermos ter uma radiação que nos melhore em qualquer aspecto.

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  4. Acho importante agradecer sua colaboração no Café Com Absinto. É sempre bom ter um feedback dos leitores.

    A expressão "nasceram normais" acaba sendo relativa. Pessoas que nascem e moram próximas ao litoral brasileiro, no geral, acabam sendo escuras em comparação às nascidas no interior do Brasil. As duas são consideradas normais mas há uma diferença física causada pelo ambiente.

    Quando houve o acidente em Chernobyl, eu lembro pois já tinha idade para entender o que estava acontecendo, cientistas afirmaram que durante muitas décadas a região inteira não poderia ser habitada por ser vivo algum e que mesmo as plantas morreriam. Bom, isso não aconteceu. É claro que houve uma certa devastação, normal quando se muda os fatores físicos de um ambiente mas hoje, poucas décadas depois a região é habitada por animais que se adaptaram.

    É claro que alguns apresentam alguma mutação e certamente, todos apresentam alguma dose de radiação mas estão normais e a maioria é fértil conforme reportagem da BBC - Animais sobrevivem à radiação na área de Chernobyl http://www1.folha.uol.com.br/folha/bbc/ult272u52816.shtml

    Mesmo que sejam encontradas mutações na região a idéia do texto não é que não existem mutações por radiação, é mostrar que os efeitos da radiação em um ser humano não são 100% compreendidos. Não acredito que qualquer radiação possa gerar o Hulk mas entendo o "gancho" usado por Stan Lee.

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  5. Olá, Mercuryo, agora eu que agradeço a colaboração, não tinha lido esta reportagem, não me lembro se a que li foi antes ou depois desta, provável que antes pois não era tão detalhada e trava só de insetos e anelídeos que foram encontrados lá. E nisso já se vão muitos anos aliás, uma vez que esta já é de 2006.

    O que me faz pensar que hoje a situação em Chernobyl já seja completamente diferente.

    Eu entendo este "gancho" que o Stan Lee usou, que aliás é o mesmo utilizado para explicar os poderes do Super-Homen (absorver uma radiação e transformá-la em algo produtivo ou "super-poderoso"). Bom, em uma escala diminuta nós já fazemos isso quando absorvemos os raios solares e sintetizamos vitamina "D".

    Como tenho dito em vários comentários neste seu blog, tenho gostado bastante daqui, espero poder continuar lendo e comentando os artigos.

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