Esse assunto não é uma novidade. Na Idade Média já se discutia muito sobre a existência ou não de um umbigo em Adão, como o umbigo é uma cicatriz do cordão umbilical não haveriam motivos para criaturas criadas diretamente por Deus o terem.
Durante toda idade média, diversos artistas representaram o primeiro casal e quase todos os que ficaram conhecidos tinham o umbigo. O Adão e Eva de Albrecht Dürer é um dos mais conhecidos em todo mundo se tornando praticamente um ícone na história da arte. Michelangelo também preferiu representar Adão com a cicatriz bem aparente demonstrando uma posição clara sobre esse assunto e por isso foi muito criticado por teóricos da época.
Não sabemos a real opinião de Michelangelo ou de Dürer sobre esse isso mas para ambos os casos parece clara a decisão a favor da estética e não da lógica. Estamos muito acostumados com corpo humano como ele é e modificações, ainda que sutis podem causar um desvio de atenção indesejado para a obra. Um bom exemplo disso nós temos nos dias de hoje, no comercial das sandálias Havaianas, onde Fernanda Vasconcellos aparece sem umbigo. O tema foi muito discutido na internet, seria um erro de arte-finalização? Uma estratégia de marketing? Pra mim houve um erro sim, na arte-finbalização mas não foi um erro grave. Na propaganda da TV, com maior definição o umbigo é visível mas ficou muito discreto e acabou sumindo nos vídeos de internet. Posso afirmar que na TV o umbigo estava lá e posso afirmar isso por ter visto o comercial no ar, já na internet é preciso de um pouco de boa vontade para encontra-lo em um zoom.
O fato é que a ausência de um umbigo foi logo notada e mesmo que todas as pessoas saibam que a Fernanda Vascosellos é perfeitamente normal a visão modificada da anatomia humana causa desconforto, curiosidade e desvia o foco do comercial. Para evitar esse tipo de efeito indesejado, muitos artistas escolhem modificar levemente a "realidade" para não prejudicarem a compreensão da sua obra.
A Herança do Umbigo de Adão não é apenas literal, no meu ponto de vista isso pode ser observado sempre que um artista, em uma obra, toma uma decisão com base na estética e não nas leis vigentes no nosso universo. Isso pode acontecer por dois motivos: 1) Ele não conhece a verdade. 2) Ele preferiu ignorar a verdade a favor de uma representação mais artística.
Isso acontece não apenas na pintura e escultura mas certamente em todas as manifestações de arte. Sendo um fã de cinema eu decidi separar três casos de "Herança do Umbigo de Adão" nos filmes de hoje.
1) Vampiros que não enxergam no escuro.
Tudo bem, uma vez que vampiros não existem e a sua existência já contraria as leis vigentes no nosso universo, esse erro não parece tão grave mas supondo que você queira fazer um filme com o máximo de realidade possível, é de se esperar que caçadores noturnos enxergue tão bem ou quase tão bem a noite quanto de dia e que usem a escuridão como aliada e não como limitação. Sendo assim, não há motivos que levam um vampiro a usar lanternas ou acender as luzes quando entra em um ambiente escuro como vemos em muitos filmes até bem aceitos como Anjos da Noite (Underworld: Evolution - 2006). O esse não é um erro comum, é provavelmente uma escolha estética para melhor trabalhar a iluminação na cena.
2) Tiros fatais na água.
Essa vemos muito, inclusive em ótimos filmes como O Resgate do Soldado Rian (Saving Private Ryan - 1998) os projeteis cortando a tela em baixo d'água e matando soldados indefesos. A iluminação difusa do sol, as nuances da água, o silencio e o movimento lento e marcado dos projeteis cortando a tela formam uma plástica fascinante mas pouco real. Tiros disparando contra a água raramente penetram mais que 20 cm de profundidade e mesmo com armas de pesado calibre como as .50 usadas por snipers para abater alvos de 400 a 2000 metros de distância, provavelmente não matariam um mosca se ela estivesse a um metro de profundidade. A densidade elevada e a diferença de temperatura espatifam o projetil em centésimos de segundos após ele entrar na água tornando-o ineficiente.
3) Sons no espaço.
É difícil imaginar Star Wars sem os sons dos disparos e sons de explosões nos combates espaciais entre naves, o filme ficaria chato e nem pareceria real. Não se questiona se George Lucas sabia ou não que não há propagação de som sem o ar, isso torna-se irrelevante pois o filme não ficaria bom se fosse feito de outra forma. Mais um caso onde a visão artística se sobressai à provável realidade.
Esses são apenas alguns dos casos que lembrei em quanto escrevia mas quem lembrar de mais, pode comentar.