- Mãe, por que a senhora não foi
ontem na igreja?
- Na igreja? Eu nunca poderia ir na
igreja, meu filho, e sim à igreja. - explica a mãe com um ar de
deboche.
- Ora, mamãe, a senhora entendeu, não
entendeu? Então não complique.
- Meu filho se diz "à igreja"
e ponto final.
Eu sei, isso acontece todos os dias e
não há nada de mais. Mas não posso negar que o diálogo entre os
dois me fez pensar na prioridade de um idioma de comunicar um fato ou
idéia. Por vezes damos mais importância à forma que ao conteúdo.
Imaginem o nosso mundo há centenas de anos. Um homem primitivo
tentando, por meios de gestos, explicar para a sua esposa que iria
caçar e sabendo que demoraria dias fora de casa, existia sempre um
receio de uma falta de compreensão, que resultaria em um grande
problema quando ele chegasse em casa uma semana depois. Olhando por
esse lado não é difícil deduzir porque o homem inventou a língua,
sons, desenhos e sinais que expressão idéias até os dias de hoje
com as palavras e frases que deixam a comunicação mais simples.
Simples? Vamos imaginar que o mesmo primata tivesse que explicar para
a sua esposa que iria caçar, só que usando palavras assim como nós.
Ao dizer:- Querida, vou à caça.Teria que ter cuidado para não
dizer "vou na caça" ou ela pensaria que ele iria caçar
montado em algum animal. A situação pioraria se ele tivesse que
deixar um bilhete. Teria que escrever "Querida, vou à caça"
sem esquecer o sinal de crase, pois temos uma super posição do "a"
preposição exigida pelo verbo ir e o "a" artigo definido
feminino que acompanha o substantivo caça; sem falarmos é claro no
grave erro que ele jamais poderia cometer de escrever caça com "s"
ao invés de "ç", ou alem fracassar ao se comunicar com
sua esposa, ele ainda teria que explicar a ela em que casa esteve
durante uma semana.